segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Exercício sobre a solidão

Sinto-me só.

Mas estás aqui comigo, não estás só…

Mas sinto-me só.

Como é sentir isso?

É sentir um vazio.

Onde?

Dentro de nós…

O que há dentro de nós?

Uma vibração qualquer.

E sentes solidão?

Quando deixa de vibrar, sinto.

O que fazes para não deixar de vibrar?

Fico a falar contigo na esperança de ires ao meu encontro…

Mas se isso se passa dentro de ti, porque te viras para mim?

Há algo em ti que talvez me ajude a não me sentir só.

Não há nada em mim que te possa servir.

Porquê?

Porque não!

Como assim?

Não te posso fazer vibrar…

Claro que podes, já o fizeste.

Ai sim, fiz?

Sim…

E como foi?

Foi bom, por isso acredito que consigas novamente.

Descreve-me a sensação.

É como um pulsar contínuo dentro de mim, todo o corpo fica activo, fervilha, os olhos vêm as coisas de outra maneira, mais alegre… feliz!

Estou a ver…

Entendes?

Estou a ver… Como te sentes?

Não sei. Porquê?

Sentes-te só?

Humm…

Não passa por mim, eu estou aqui contigo, mas não passa por mim…

Não necessariamente, mas pode passar.

Como é sentir essa vibração?

Outra vez? Já te descrevi!

A mim sim, mas a ti mesma não as vezes necessárias.

Testemunha da mente

Eu e os meus pensamentos…
A minha mente parece um tacho repleto de óleo a ferver com milho… pipocam pensamentos freneticamente…

Saltam doidas e irrequietas, se fico muito tempo no mesmo pensamento rapidamente o tacho queima e as pipocas passam de estaladiças a estorricadas. Tudo tem um ponto de qualidade, se ultrapassa esse ponto fica uma porcaria, se não se passa por ele fica sem interesse, uma coisa deslavada…

Um momento de silêncio por favor, um momento de quietude… um momento de tédio! Porquê este medo do tédio, porquê esta constante corrida para algo? Será preciso estar sempre a fazer algo, como a cozinha de um conceituado restaurante que nunca pára 24 sobre 24 horas? Chega, hoje não quero servir nada, hoje não quero imaginar, projectar… hoje quero degustar o requinte de não fazer nada. É de facto uma arte, a arte de não fazer nada! É uma arte porque nunca ninguém pensou nisso, pensasse sempre em fazer algo, nunca estar parado… parar é morrer, nascemos a ouvir isto!

Eu quero parar e sentir esse morrer da mente, e o bater do coração, o som da respiração, o ranger dos meus dentes enquanto saboreio as solitárias pipocas que como, dissolvendo-se na boca.

Vou ficar aqui a olhar apenas, em silêncio… tudo ganha uma outra dimensão. O silêncio tem uma melodia, a melodia do repouso… depois disto agora sim, posso voltar ao barulho da mente, mas agora como testemunha, não como personagem principal.

domingo, 10 de outubro de 2010

Jornadas Ilusórias

Como um movimento contínuo, quando se esgotam todas as possibilidades enquanto o rio corre sobre nós… De malas cheias de vontades em punho subimos para níveis ilusórios e plataformas suspensas da nossa imaginação. É pesado o ego que erguemos por um punho fechado que teima em não abrir, a mente glorifica-se pelo esforço de um corpo que não quer subir mais…

Partimos para onde? O percurso é longo, quase eterno… no entanto tão rápido como uma seta disparada em direcção ao alvo infinito. Somos feitos de alvos infinitos, infinitas jornadas, incontáveis resistências, descontrolados desejos…

Se cairmos na subida ao cume do nosso desejo ficamos suspensos numa respiração que cessa com medo de nunca mais acontecer, não olhamos para trás, não desistimos de olhar em frente mas não olhamos para nós…

O tempo que carregamos na mente esgotasse e as nossas malas enchem-se até se abrirem os fechos, que forçados não aguentam a pressão das vontades sobre o impossível. De repente, quase chegando ao cume da nossa ilusão o corpo em exausta luta contra a mente pára quando no ar levitam todas as tralhas humanas que carregámos…

Levitamos por entre os trapos velhos e as tralhas que fomos, deixámos de subir ou descer em viagem por entre plataformas… somos todo o espaço, todo o tempo, a própria experiência, somos a nossa própria mala cheia de sorrisos e vazia de ilusões.
Free Guestbook from Bravenet.com Free Guestbook from Bravenet.com