Naquilo que resta
Farrapo. É como um farrapo humano que me vêm. Sou, na verdade, mais farrapo que humano, e por isso dependo tanto assim da humanidade. Procuro a humanidade até à demência, procuro onde a cheiro, vasculho onde oiço os seus ecos, analiso no lixo cada pedaço de humano.
E no lixo - onde me vêem vaguear, onde gasto tanto da minha tão parca atenção – é lá que encontro o que há de bom e mau nos homens. Deparo-me com os seus restos, é nos seus restos que concentro as minhas forças. E sem eles, sem o que as pessoas desprezam, não estaria aqui, com o meu juízo inteiro. Eles preenchem-me com sensações dos homens, fazem-me sentir perto, e daí eu me achar dependente do desperdício das gentes. Necessito que as pessoas desperdicem, se desapeguem daquilo que amaram, ou daquilo que necessitaram. É preciso que gastem, se enfadem do que têm, desperdicem o que não conseguem consumir, tenham menos e mais fraca barriga do que olhos gananciosos. Preciso do seu luxo antigo e despedaçado. Preciso que sejam egoístas, que usem só o que têm de melhor para me restar algo daquilo que é paupérrimo.
Sejam egoístas, e sejam insanamente autocentrados, preocupem-se tanto como só vocês conseguem com a vossa imagem pública, ao ponto de me darem uma esmola que pareça bem aos olhos dos que passam a ver. (por favor) Desunam-se e digladiam-se, e atirem-me as sobras. Sintam o fervor da inveja, e sintam também o frio que resta no fim dela. É também importante que sintam frio, muito frio. Tanto, que invistam todo o aquecimento nas vossas máquinas, nas vossas construções recordistas e ambiciosas, e assim eu sentir-me-ei protegido, terei o meu lugar próximo desta humanidade fumegante das cidades, serei parte integrante do seu conforto, muito embora esteja na ponta final do mesmo: uma cinza, uma marca do aconchego que existiu nalgum lugar que não este.
E ainda assim, onde eu moro é onde existe mais humanidade. Nas ruas deste mundo, sente-se uma névoa gélida pela manhã. Ela vem carregada com tudo o que fervilhou nas mentes dos homens, que agora dormem exaustos, distantes. Nela, eu sou invisível.
E no lixo - onde me vêem vaguear, onde gasto tanto da minha tão parca atenção – é lá que encontro o que há de bom e mau nos homens. Deparo-me com os seus restos, é nos seus restos que concentro as minhas forças. E sem eles, sem o que as pessoas desprezam, não estaria aqui, com o meu juízo inteiro. Eles preenchem-me com sensações dos homens, fazem-me sentir perto, e daí eu me achar dependente do desperdício das gentes. Necessito que as pessoas desperdicem, se desapeguem daquilo que amaram, ou daquilo que necessitaram. É preciso que gastem, se enfadem do que têm, desperdicem o que não conseguem consumir, tenham menos e mais fraca barriga do que olhos gananciosos. Preciso do seu luxo antigo e despedaçado. Preciso que sejam egoístas, que usem só o que têm de melhor para me restar algo daquilo que é paupérrimo.
Sejam egoístas, e sejam insanamente autocentrados, preocupem-se tanto como só vocês conseguem com a vossa imagem pública, ao ponto de me darem uma esmola que pareça bem aos olhos dos que passam a ver. (por favor) Desunam-se e digladiam-se, e atirem-me as sobras. Sintam o fervor da inveja, e sintam também o frio que resta no fim dela. É também importante que sintam frio, muito frio. Tanto, que invistam todo o aquecimento nas vossas máquinas, nas vossas construções recordistas e ambiciosas, e assim eu sentir-me-ei protegido, terei o meu lugar próximo desta humanidade fumegante das cidades, serei parte integrante do seu conforto, muito embora esteja na ponta final do mesmo: uma cinza, uma marca do aconchego que existiu nalgum lugar que não este.
E ainda assim, onde eu moro é onde existe mais humanidade. Nas ruas deste mundo, sente-se uma névoa gélida pela manhã. Ela vem carregada com tudo o que fervilhou nas mentes dos homens, que agora dormem exaustos, distantes. Nela, eu sou invisível.
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