quarta-feira, 11 de maio de 2005

Dizem-me

Sou igual a todos os outros, sou igual a esta garrafa de água suando gotas que se evaporam na atmosfera. O semblante está pesado, toda a música é ruído para os meus ouvidos e todo o silêncio é sonambulismo puro que me arrasta. Está a nevar nos meus olhos e a crescerem plantas debaixo dos meus pés, e eu aqui sentada numa mesa a olhar para dentro das coisas como se alguma viesse falar comigo. Elas falam-me, sussurram-me durante a noite enquanto estou sentada à beira da cama. Todas dizem-me para ficar onde estou e para apenas mexer os olhos procurando o sítio mais escondido da casa. Entretanto, uma música leve começa a soar no telhado e a sua vibração faz-me cócegas no cotovelo, um formigueiro que desce até à mão… não a posso abrir, se isso fizer calo para sempre o som da terra e esmago todos os homens. Com ela em pleno movimento eu mudo tudo de lugar, e escorraço todos os que impedem o jogo de prosseguir, afogo os que riem e queimo os que choram. Se eu tocar nas cordas de uma viola faço tremer o mundo com as suas vibrações quânticas, se pensar faço explodir os sacos de ódio dos beirais e se dormir piso todas as almas foragidas. Vou comer a minha raiz mais próxima e beber a minha sede até à última gota, enquanto isso fico aqui deitada a ver-te reanimar-me da própria culpa. A culpa, meu amigo, não está em ti nem em mim, mas sim naquele que nos fez senti-la pela primeira vez!
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