quinta-feira, 12 de maio de 2005

Quase

A constante na minha vida é uma quase conclusão. Se conto, é de impaciência. Não se pode estar sossegado, imaginando um cenário de calma cosmopolita e moderna, um sossego imaculado de estarmos recostados no conforto de saber que podemos estar longe de uma qualquer perfeição, mas ainda assim vamos congeminando alturas em que tudo parece mais claro e nítido, e a nossa alegria depende apenas de nós mesmos e apenas de nós. E a nossa paciência é infinita, nessas fases, o nosso conhecimento é uma linha recta para o céu e sabemos dançar, libertando alguns dos nossos medos em forma de ironia e calma. É nisto que acredito, que temos oportunidades e que nos resta agarrá-las firmemente, com tudo o que angariamos de experiência nestas alturas.


Porém, se tudo parece que se vai construindo com alguma lógica, o que acontece é que em parcos instantes tudo rui se nos deixamos levar pela sensação de certeza, num mundo que se rege mais por leis de Heisenberg do que pelas de Newton. As nossas melhores certezas são o oposto disso mesmo, é na insegurança que nos podemos mexer com uma maior liberdade para atingirmos os nossos objectivos. O preço de não ter esse cuidado é sermos pequeníssimos, é soçobrarmos às mãos do destino que sabe guilhotinar uma vida num segundo. É estarmos no colo de nossa mãe e berrarmos porque acabou a refeição, ou porque vai começar outra. Um só estou bem onde não estou, uma impaciente miséria que se apodera dos espíritos que, por momentos, tinham tudo acumulado numa montanha indestrutível de sucesso e prazer. Pois vão esses espíritos acumulando todas essas benesses por cima de si mesmos, e quando o peso é demasiado começa a incómoda sensação de que tudo foge ao controlo. E não vejo propriamente maneira de fugir ao ser assim, senão tentar cortar as amarras quando o desgoverno é maior. O que sobra de tudo isto é a nossa doce covardia.
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