quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Vida ortográfica

Uma página branca e independente não tem a arrogância das que se levam a cabo com sorrisos amigáveis. Não se vislumbram no branco absoluto aqueles olhares de quem sabe que vai ter, possuir, usar, lavar e vender. Abandonar. Na brancura do vazio não se está só, não há sequer solidão - é preciso conhecer e ter visto muitas gentes para se ser irremediavelmente só, na página solta de nada não há gentes. Pensam-se e fazem-se guerras só com letras de leis e processos, e tratados, insultos e assaltos - modernos. levados a cabo em entrelinhas, - versos mal entendidos, elogios prescritos de acordo com o câmbio actual. Em páginas e páginas pesadas de mofo, que é o que ganha a razão quando expira, afundam-se os professores e os educados. Para a selvajaria há já também manuais, e convenções, e associações mal disfarçadas, que uma gravata fica sempre bem.
As pessoas buscam o bem, a redenção, uma que sirva ao particular e que se escreva em testamento. Depois morrem sem querer, e o jornal dá-o a saber, junto com o patrocínio de pastas de dentes que mascaram o sorriso amarelo, prometendo um branco. Branco como este Branco. O Branco que não contém raiva, nem maldizer, nem pensamentos estropiados e virulentos.

Mas; distraí-me. Ainda agora era isto branco, e agora já é espelho baço de mim.

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