quarta-feira, 30 de maio de 2007

Cúmplice adeus

Escuta-se ruído, muito ruído. Pneus de camiões furiosos empurram a água da estrada, uma buzina de automóvel ralha, solitária, à distância. Asas de pássaros, um, dois, três pássaros batem de surpresa, fogem, estacam. Centenas de pernas fogem e estacam, fogem e estacam, não param; mil aspersores incidem zangados uns com os outros, o nevoeiro é barulho que se ouve com o nariz.
De súbito, tudo cessa, tudo se aquieta. O ouvido estranha, mas continua o caminho na calçada, o peito pesa. Um aperto tamanho no peito
-Respira
A pressa fugiu, o mundo perdeu a geografia, a geometria, é obsoleto cronometrar a vida. Não se ouve nada, e continua pela calçada caminhando em frente, não se distinguem os detalhes. Mas tudo está estranhamente tranquilo, tudo se pinta de sossego e uma alegria ténue. Tudo se suspende num momento de vácuo enquanto ele caminha.
Parece que o estou a ver a ir embora, leve, pela calçada.
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