sexta-feira, 4 de maio de 2007

"Hoje matar-te-ei" *

Matar deve ser, mais coisa menos coisa, como morrer. No final de contas, perde-se uma vida, de quem pouco importa, eu acho. Quem mata padece do desejo de dizer um adeus permanente. Quem morre, permanentemente se está despedindo. E eu aqui pensando-nos numa daquelas arenas romanas, cada um tentando ferir o outro com o olhar até que um de nós caísse por terra. Eu brandindo um gládio feito de raiva contida, agitando-o até quebrar tudo em meu redor, até, violentamente, desapareceres da minha ideia. Ainda ontem te amei...

Fiz o quê?

Tive-te a jeito, rodei-te a cintura, encostei-te e prendi-te as costas no meu peito, apreciei a fragilidade do teu pescoço, e apreciei que o teu pescoço fosse frágil.

Ontem mesmo te amei como te tenho vindo a amar, faço como se fosses o mundo inteiro e atiro-me, feito em napalm. De noite tu dormes. . .eu choro, à velocidade de renovação das lágrimas.

O que importa aqui é que um de nós morra, à revelia da minha covardia, é este o princípio do nosso eterno renascimento. Quero propôr-to, descaradamente, quero contar-te esta minha lucidez, em vez de deixar uma tímida mensagem no teu gravador – "Hoje matar-te-ei". Prepara-te, porque levarei esta minha loucura até à última instância. Entrego-lhe o meu destino, entrego-lhe o teu.

É assim o jogo dos insanos. Perdoa este aviso de quem te ama.



* Resposta ao desafio do Finúrias

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