domingo, 15 de maio de 2005

Ver

Chove debaixo da minha cabeça e faz sol por cima dos meus cabelos enquanto vejo um mar de gente rodeando-me neste imenso mar azul. Entretanto, nos campos as caturras cantam e fogem das máquinas que ceifam a terra, e eu ceifo o mar enquanto fujo dos outros que me atropelam neste traço contínuo de azul salgado que queima. Nado como numa piscina olímpica até poder alcançar o meu mérito mais profundo, a minha cama. Estou extenuada e só quero dormir acordando sobre uma maré baixa e branda. Enquanto isso, ao meu lado e por cima do meu corpo só vejo vermelho, um vermelho doce e vivo, são as pétalas de rosa que o meu sangue tingiu durante o esforço vivo de pensar em ficar ou partir. Não me lembro de nada, apenas de uma mão me acariciar até eu despertar numa sensação leve. No fundo, eu desmaiei no ponto de chegada e a sensação foi a mesma durante essa viagem, daí a estranheza ser maior.
Neste estado levanto-me e visto-me, saio à rua e todos olham para mim, olho para eles procurando o que vêm em mim… passo numa montra espelhada de uma loja de roupa e olho-me sorrateiramente, nada vejo de errado. Volto a casa e pergunto-te se vês algo de errado e tu simplesmente sais a correr, oiço-te a rir baixinho na casa de banho, sais, paras ante mim e respondes: Hoje saíste à rua nua! Vou a correr para o espelho e vejo as pessoas, os carros, o sol, o mar, o dinheiro, todos aqueles que me usaram para viver mais um dia e pensei num tom grave: Todos me olharam e nenhum me quis sentir. Esta é a guerra dos cegos, todos comentam mas ninguém vê!
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