Buscando no vácuo
O escuro torna as coisas encolhidas e as distâncias maiores. Sinto que quando não estou a olhar, e a escuridão é absurdamente total, tudo o resto que não eu está a uma boas léguas além do meu alcance. É como se a luz fosse um veículo de vitalidade, uma teia pegajosa entre mim e o que conheço na sua forma mais alegre. No escuro, as ideias bonitas encontram meio de chegar umas às outras, encontram harmoniosamente o seu lugar na rede conceptual de uma manta de retalhos da vida que me faz a mim. Mas as imagens bonitas dispersam, desligam, afastam-se; as ideias perdem a forma. Como resultado, fico a saber concretamente que está escuro, que a minha esfera está de costas para a luz. E quando os objectos se esvaem para essa negritude, passam a obedecer à dinâmica da noite, trocam constantemente de lugar entre si, desaparecem, ressurgem noutro país, personificam-se, amaldiçoam-nos, atolam-nos o juízo, embrulhando-se num sonho; apenas para quando são de novo banhados de luz troçarem da nossa existência, estando exactamente no mesmo lugar. E das melhores sensações do dia é abrir os olhos, depois de já me ter esquecido que os tinha fechado.
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