quinta-feira, 16 de março de 2006

No parapeito

No parapeito da janela do meu quarto havia uma poça de água, todos os dias, mesmo os mais solarengos, a poça estava ali refugiada do frio. Á noite, estava debruçada na janela a ver a rua, o ar estava quente, e as pessoas passeavam alegres, quando senti um frio no meu braço olhei e vi que a manga do meu vestido estava molhada. Quando levantei o braço vi que a poça de água tinha molhado o meu vestido azul. Olhei para ela e vi o céu, uma estrela brilhava muito, ela desfocada na água sorria para mim. Olhei rapidamente para o céu, lá o meu olhar era mais nítido. Ela estava agitada, queria dizer-me algo, pôs-se então a mexer-se rapidamente pelo manto escuro da noite. Num jogo irrequieto ela escondia-se e aparecia prendendo assim a minha atenção. Arrancou de mim um sorriso e nessa altura aproximou-se de uma forma que eu nunca imaginara possível, tentei tocar-lhe tomada por uma curiosidade infinita, mas ela era trespassável ao meu toque. Parada enfrente a mim ela disse-me que à muito tempo que me acompanhava, era ela que fazia o espelho da minha alma criando aquela poça… ele desvendara-lhe tudo. Nesse dia sequei a poça assustada, e todos os restantes, mas ela insistia suplicante em aparecer, não queria que estrela nenhuma soubesse de nada sobre mim. Um dia, espreitei para o parapeito e vi que a poça nunca mais nascera, senti-me só, vi que naquele momento a água deslizara talvez para outro caminho, um caminho menos seco, áspero e que cede a qualquer momento aos medos das intempéries.
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