quinta-feira, 23 de março de 2006

Sala comum

Hoje, tudo o que se passa é-me de alguma forma alheio. Estas caneta e folha de papel são o único foco da minha atenção mundana, e o que me rodeia revestiu-se de uma dinâmica que pareço desconhecer por completo, subitamente. Sinto que há pessoas, que passam, se deslocam. Estão vagas. Sinto tanto viajarem pessoas à minha volta quanto vontades humanas, desejos, impaciências, sedes, . . . Estou de tal modo que sinto com mais força quanto menos compreendo. Se visto roupa, penso que não me basta. Mas basta-me, não sei o que visto. E encontro-me, então, sozinho no meu espaço mental com mais umas quantas dezenas de indivíduos que usam o meu nome, a minha cara, as minhas posses - supostas posses - , os meus direitos, a minha solidariedade. . . Mas não são eu. Provam e existem apenas para comprovar que nem eu sou eu. A não ser que eu seja aquele que todos na sala vêem segurar esta caneta agora. Mas esse lugar disputam-no os seres da minha mente, revezam-se, brincam com ele. Desfiguram-me até haver o mundo, uma linha, e eu do outro lado, perplexo. Espectador privilegiado do que pensava que não era. Mas se tudo aquilo que não sou, penso e faço, então e porque é provável que o seja.
Estes seres espelhos do não que sou têm medo de mim. Expulsam-me, esfregam-me os olhos, e já começo a esquecer, a sentir o meu corpo, o meu dia, o que almejo e devo procurar, e vou erguer-me para junto do mundo. Conheço-os melhor do que sabem. E já volto aqui. . .
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