Submersão III
No escuro, foi com dificuldade que se apercebeu que o que se lhe tinha enrolado ao pé era a saia que fora despida algumas horas atrás, em indeterminado local. Estacou, a sua mente quase tão inerte quanto esta escuridão de quarto, só via preto e cor de pele. De onde estava, entregou-se ao fitar do vulto feminino que ocupava a diagonal da cama. Não distinguia o que era pele do que era lençol, admirava a mistura de ambos. A mulher pendia um braço para o chão, como se o seu corpo precisasse disso para não se confundir definitivamente com a cama, e a sua expressão séria, de quem parece dormir sobre assuntos de estado, inscrevia um concludente e carinhoso sorriso nos lábios dele. . .
Quem soubesse que isto era um sonho dele, e o visse nele enquanto sorria contemplando as suas recordações, estranharia decerto a sua expressão facial externa, de aflição. E era sempre na parte do sorriso que acordava. Invariavelmente, estava a meio da noite, escura, ocupando ele a diagonal de sua cama.
- Merda . . .
Meio minuto de esfregar os olhos sentado e levantou-se, na busca de um copo de água.
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