sábado, 29 de abril de 2006

Em meios de mim

Há um sentimento vago no meio de todas as sensações que equilibro na minha mente. Sentimento solitário, resistente, estóico, errante. Também desconhecido. Às vezes toma conta de todo o meu ser, da maneira como ajo e penso em determinada altura. É um sentimento leve, indefinido, indeciso; leve. Um canal directo escavado desde o fundo da minha alma que me vem aos sussurros manobrar lentamente, fazer-me libertar destes grandes enganos. Por momentos. É quando tenho a mente assim liberta que consigo pensar verdadeiramente, verdadeira e calmamente, na razão de tanta balbúrdia e azáfama que levo a cabo com um objectivo deserto de qualquer propósito. É ter consciência de mim mesmo. Acordo, abro os olhos, e a manhã parece um sem fim de verde para pisar e sentir. Viver.

domingo, 23 de abril de 2006

Gentes

Porque somos feitos de cabelos e angústias, porque os nossos pés massajam a nossa alma que relaxa sobre um banho de sonhos doces e vaporosos... isto de gentes é engraçado!
Mais do que a graça, é a gargalhada festiva, é o insólito de nos sentirmos perdidos num espaço que conheçemos bem, é indiscritivelmente abrirmos os olhos e nos vermos a nós. A unha que parte sobre a pressão do bater da porta nos nossos ouvidos, a pele que se arrepia num dia absurdo de sol, os olhos que vêm no escuro todos aqueles que são iguais. Iguais como o que possas pôr em frente ao espelho, escolhe tu o quê, ou quem, mas inicia a metamorfose das gentes.

domingo, 16 de abril de 2006

Para aquém do mais. . .

As pessoas são muitas.
São boas, são mesclas.
Sempre de alguma maneira boas,
de várias maneiras feias.
As pessoas são grandes.
Maiores ainda, quando esquecem
- alturas em que esquecem que são muitas,
exageradas -
São todas as pessoas belas,
entediantes, sarcásticas.
Levam-me sempre pela certa,
bonomizam as mentiras.
As pessoas interessam-me;
às vezes sou de interesse para elas.
E de nenhum modo me proponho imaginar o que seria eu
a não ser uma pessoa
como são as pessoas.
Contradições, cientificamente testadas.

terça-feira, 4 de abril de 2006

Está frio aí?

Que vês tu que não te encontras jamais entre nós? Sentes o que sinto, e ouves o que penso? Está frio aí? Chega de perguntas infrutíferas, são puras perguntas retóricas, é um duro solilóquio agora que desapareceste. Restam-me as recordações doces, as lágrimas, os sorrisos e os esquecimentos que deixaste numa vida de momentos pausados numa respiração vibrante. Entre o espaço das coisas que tocaste e eu, fica a memória física, fico eu, ali sozinha a ver-te vaguear. Essa é a distância entre a memória e o físico, a alucinação e a telepatia, entre o divino e o terreno, a bíblia e o livro dos ateus.
Porque a nossa mente nos mente quando nos reporta para locais dos quais ela disse que seriam seguros de recordar, porque nos convencemos de que a felicidade está mais para além de tudo o que a mente abrange, surge um tempo de saudade. A saudade surge quando saúdo tudo o que está em ti, quando violas o meu pensamento e escavas as lembranças mais profundas. Amo-te profundamente ao ponto de me deixares um buraco no cérebro, de deixares as veias nuas e envergonhadas, de me desconectares para o irreal. Nunca a palavra saudade, como um apagador de erros ortográficos, coibiu tão bem aquilo que sinto ao ver-te diante dos meus olhos não podendo tocar-te… enfim, resta-me amar-te e desejar-te feliz na mais curta distância que existe entre mim e a cadeira sobre a qual estiveste sentada!
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