terça-feira, 24 de maio de 2005

A minha mente está limpa mas não lhe consigo sentir o cheiro. Quando fecho os meus olhos sinto que alguém mexe na lixeira em céu aberto, as dores são mais que muitas, como se me estivesses a arrancar uma caixa que te é muito útil, mas vê meu amigo, ela pertence-me... Depende para quê a utilizarás ou se um dia a irás repôr no mesmo sítio. Vasculhem, sintam os odores, mudem as coisas de sítio, apenas continuo a dizer que a minha mente está limpa, se alguém me desmente é porque sente e esse sentir vem de vós, sois vós que a inundam de lixo e agora acusam-me a mim!

domingo, 15 de maio de 2005

O Último Adeus

I don't know why
- I don't know why
and I don't know just what for

You came inside
Waked me alive
and you had to steal my heart

Pain as I did
Could not focus straight
but today I've found my heart
- I was that smart -

I chose to breathe
Bleed what I would
show you just how to go on
how to move on

Ver

Chove debaixo da minha cabeça e faz sol por cima dos meus cabelos enquanto vejo um mar de gente rodeando-me neste imenso mar azul. Entretanto, nos campos as caturras cantam e fogem das máquinas que ceifam a terra, e eu ceifo o mar enquanto fujo dos outros que me atropelam neste traço contínuo de azul salgado que queima. Nado como numa piscina olímpica até poder alcançar o meu mérito mais profundo, a minha cama. Estou extenuada e só quero dormir acordando sobre uma maré baixa e branda. Enquanto isso, ao meu lado e por cima do meu corpo só vejo vermelho, um vermelho doce e vivo, são as pétalas de rosa que o meu sangue tingiu durante o esforço vivo de pensar em ficar ou partir. Não me lembro de nada, apenas de uma mão me acariciar até eu despertar numa sensação leve. No fundo, eu desmaiei no ponto de chegada e a sensação foi a mesma durante essa viagem, daí a estranheza ser maior.
Neste estado levanto-me e visto-me, saio à rua e todos olham para mim, olho para eles procurando o que vêm em mim… passo numa montra espelhada de uma loja de roupa e olho-me sorrateiramente, nada vejo de errado. Volto a casa e pergunto-te se vês algo de errado e tu simplesmente sais a correr, oiço-te a rir baixinho na casa de banho, sais, paras ante mim e respondes: Hoje saíste à rua nua! Vou a correr para o espelho e vejo as pessoas, os carros, o sol, o mar, o dinheiro, todos aqueles que me usaram para viver mais um dia e pensei num tom grave: Todos me olharam e nenhum me quis sentir. Esta é a guerra dos cegos, todos comentam mas ninguém vê!

quinta-feira, 12 de maio de 2005

Quase

A constante na minha vida é uma quase conclusão. Se conto, é de impaciência. Não se pode estar sossegado, imaginando um cenário de calma cosmopolita e moderna, um sossego imaculado de estarmos recostados no conforto de saber que podemos estar longe de uma qualquer perfeição, mas ainda assim vamos congeminando alturas em que tudo parece mais claro e nítido, e a nossa alegria depende apenas de nós mesmos e apenas de nós. E a nossa paciência é infinita, nessas fases, o nosso conhecimento é uma linha recta para o céu e sabemos dançar, libertando alguns dos nossos medos em forma de ironia e calma. É nisto que acredito, que temos oportunidades e que nos resta agarrá-las firmemente, com tudo o que angariamos de experiência nestas alturas.


Porém, se tudo parece que se vai construindo com alguma lógica, o que acontece é que em parcos instantes tudo rui se nos deixamos levar pela sensação de certeza, num mundo que se rege mais por leis de Heisenberg do que pelas de Newton. As nossas melhores certezas são o oposto disso mesmo, é na insegurança que nos podemos mexer com uma maior liberdade para atingirmos os nossos objectivos. O preço de não ter esse cuidado é sermos pequeníssimos, é soçobrarmos às mãos do destino que sabe guilhotinar uma vida num segundo. É estarmos no colo de nossa mãe e berrarmos porque acabou a refeição, ou porque vai começar outra. Um só estou bem onde não estou, uma impaciente miséria que se apodera dos espíritos que, por momentos, tinham tudo acumulado numa montanha indestrutível de sucesso e prazer. Pois vão esses espíritos acumulando todas essas benesses por cima de si mesmos, e quando o peso é demasiado começa a incómoda sensação de que tudo foge ao controlo. E não vejo propriamente maneira de fugir ao ser assim, senão tentar cortar as amarras quando o desgoverno é maior. O que sobra de tudo isto é a nossa doce covardia.

quarta-feira, 11 de maio de 2005

Dizem-me

Sou igual a todos os outros, sou igual a esta garrafa de água suando gotas que se evaporam na atmosfera. O semblante está pesado, toda a música é ruído para os meus ouvidos e todo o silêncio é sonambulismo puro que me arrasta. Está a nevar nos meus olhos e a crescerem plantas debaixo dos meus pés, e eu aqui sentada numa mesa a olhar para dentro das coisas como se alguma viesse falar comigo. Elas falam-me, sussurram-me durante a noite enquanto estou sentada à beira da cama. Todas dizem-me para ficar onde estou e para apenas mexer os olhos procurando o sítio mais escondido da casa. Entretanto, uma música leve começa a soar no telhado e a sua vibração faz-me cócegas no cotovelo, um formigueiro que desce até à mão… não a posso abrir, se isso fizer calo para sempre o som da terra e esmago todos os homens. Com ela em pleno movimento eu mudo tudo de lugar, e escorraço todos os que impedem o jogo de prosseguir, afogo os que riem e queimo os que choram. Se eu tocar nas cordas de uma viola faço tremer o mundo com as suas vibrações quânticas, se pensar faço explodir os sacos de ódio dos beirais e se dormir piso todas as almas foragidas. Vou comer a minha raiz mais próxima e beber a minha sede até à última gota, enquanto isso fico aqui deitada a ver-te reanimar-me da própria culpa. A culpa, meu amigo, não está em ti nem em mim, mas sim naquele que nos fez senti-la pela primeira vez!

terça-feira, 10 de maio de 2005

Germinações

Com a alma e com a razão, sem razão aparente, distraio-me no gozo de fingir ser as coisas. Sempre que isto acontece, há um sismo nos meus sentidos, tenho os olhos fechados, sou gritos e berros, sou, de repente, o jarro no canto da sala; transformo-me num lobisomem ferido, são réplicas e réplicas de sorrisos premonitórios de que vou chorar. O que é simplesmente impossível. Então, passo uns minutos a ajeitar os óculos, procurando o modo como pareço mais velho, e apago qualquer expressão dos lábios. A minha noção do mundo, aí, alarga-se e troço de Gulliver. E do Super-Homem. Só para depois sentir que tomo um café quente com a Lous Lane que enverga o busto de Kierkegaard. Nunca me calha em sorte uma Lous Lane decente. Porém ainda se não discursasse como Descartes. . .Mas convenço os três de que devo retirar-me para divagar.
No meio destas obliquidades, reparei num homem simples que percebe das coisas. Gostava que o meu cenário fosse a praia quente e crepuscular, onde distasse meras pegadas de qualquer homem simples. Mas este compreende a vida, e o que eu digo. Pois que extraordinária promessa! Será que eu venho paginado nas marés, que me torno óbvio quando as pegadas se dissolvem? Só quero saber, e vou indagar, como se simplificam os homens. À minha sombra, que sempre me acompanhou, afinal, devo toda uma perspectiva. As únicas coisas que aprendi caminhando na areia, e voando, e lendo, tremendo e uivando, foi como ser inseguro, porque a vida parece maldita, e que um abraço nunca é demasiado para pedir.

segunda-feira, 9 de maio de 2005

Empty and Lonely (adaptation) - memorial

Incomoda como um cisco no olho. É algo que não consigo tirar, que por vezes penso que não está lá, com o qual ando às voltas e nada faço. Por vezes passa e não noto que lá está alojado. Mas apenas para tornar a atormentar-me, qual cama de faquir aguçada. Sinto falta de ti. Não podias estar mais longe. Dói e arde, e queima e destrói-me. Levanto-me abalado para buscar companhia, mas não está ao alcance. Fogem-me as palavras. É desconcertante esta desconcentração. Não se ouve vivalma, não consigo. . .Eco . . . . e-co . . . e-co. . .É complicado descrever o vazio. Especialmente porque nunca foi visto, nunca pessoa alguma viu nada. E no entanto, actua como uma força dominante em certas alturas do meu dia. Sinto-me vazio. . .Quando o bando poisa e a maré baixa, fica o vazio. E sinto-me mais leve do que alguma vez pensei sentir-me. É a certeza de que nenhuma missão tenho para concluir que luta contra a gravidade, e tenho os movimentos livres, na altura em que nada preciso de fazer. É um estado semelhante com a embriaguez, só que a lucidez que persiste torna constantemente tudo pior do que é. Mesmo sabendo que o que é não o é obrigatoriamente, podendo deixar de ser as vezes que EU quiser. O que me é inconveniente é que não estou vazio. Nunca estive, e suspeito que não estarei tal até dar o meu último suspiro. De facto, estou cheio: cheio de vazio. Preenche-me até à epiderme, não dando lugar a outros sentimentos que esperam a sua vez, de tão pouco experimentados. No entanto, tudo o que realmente sou, resume-se a esse nada, que nada significando, vai pintando de angústia, em tons preto e cinza, um após outro, os meus dias. E noites. Se calha olhar-me, de frente ou de lado, reflexo ou carne, é de imediato que fecho os olhos, renitente estarei quando de novo o fizer. E não é de ânimo leve que levantar-me-ei e andarei em frente. É pensando, e retorcendo-me, esbracejando e gemendo, e calando e sorrindo, sorrindo chorando, pensando nas raízes que me ligam a este mundo com a força bruta da seiva, que sigo para onde apontam as setas. E é por ti que lá chego, mais vezes ainda que não chego, mas é por tua causa, tu és a razão. Não chores, mais tarde. . .

Foi uma vez

Conta-me um era uma vez,
Mas por amor de deus,
Conta-mo por código
Suave, porque sabes
Que não é fácil nem lógico
Servir de exemplo utópico,
Cada vez que se diz
Que sou eu quem traduz
O significado de qualquer
Constelação.

Conta-me como era uma vez
E diz-me que acabou, desta vez (acabaram os porquês!).

quarta-feira, 4 de maio de 2005

Amigo

É uma coisa sublime de sentir e de partilhar! Prezo-a acima de tudo. É a característica que está presente em tudo na minha vida, é nela que acredito, é por ela que me guio, é nela que me refugio, é sobre ela que sorrio. Nela existe um, o mais maravilhoso, o mais atento, o mais presente... o amigo!
Ele... é essência, ausência, a discussão, passatempo, paisagem, olhar, sorriso, esta é a minha grande característica. E digo-vos que o amigo é aquele que nós conhecemos por dentro e por fora e mesmo assim gostamos dele. Pelo menos foi o que sempre ouvi dizer!
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