sábado, 26 de novembro de 2005

Sem título

Conseguem tocar-me sem sentir
Olharem-me sem ver,
A alma está longe de ser descoberta,
A vida longe de terminar,
A mente, é um doloroso pesar
e as forças abandonam-me...
Abandono o meu apêgo e voo contigo sem medo,
As pessoas estranham?
Não importa... sou livre,
livre dentro de um corpo que construíu o meu ser pensante.

sexta-feira, 25 de novembro de 2005

Apartar

Às vezes tenho de ir beber onde sei que é sagrado. Às vezes esqueço-me do que me é sagrado. Umas vezes esqueço-me das minhas motivações, talvez um prazer macabro do meu inconsciente para me fazer persegui-las e sentir alívio de as encontrar, perceber. Mas mais vezes esqueço-me de que os desígnios da humanidade não coincidem particularmente com os meus, e então parece que me deslocam a alma, perco o sentido. Depois disso – por vezes tão depois que nunca chega a ser – têm lugar as vezes em que sinto verdadeiramente os meus intentos, me sinto absolutamente honesto, e então toda a humanidade se transforma nesses intentos, nesses sonhos e ideais. Absurdamente, nessas alturas, torna-se evidente que o que as pessoas precisam, imploram, é uma verdade construída, imediata, forte, decisiva e reconfortante. Mais ou menos reconfortante, às vezes não confortável. Que tenha sido feita para elas. E nesses momentos, volto ao início do meu ciclo.

Não há partes desta linha vital que sejam desprezáveis, mas porque é que de todas as vezes me esqueço de como se adormece?



-» . . .tirar o peso do corpo, enfiá-lo no espírito, acordou o espírito, embalou o peso, pesou na cabeça. A cabeça vira o corpo, arrastou o corpo o peso para um dos lados, em cima do corpo desse lado. O outro lado tem pena, chama o espírito. O espírito desenterra o lado de baixo do corpo e viram-se ambos para nenhures. Não sabendo onde está, o corpo chama o espírito, mais de metade adormecido, e clama por companhia. O espírito não quer acompanhar, quer ser acompanhado, busca um sonho. Mas o corpo não dormiu, o sonho é lembrança, e a lembrança é um dever. Este dever pesa, pesa mais. Pesa de maneira a ancorar o corpo à base, e a compactar o espírito, reduzindo-o a uma palavra, com sorte a uma expressão facial. Dever, corpo e espírito, enleados, estão imóveis. Mas o corpo tem calor, o espírito frio. O dever aquece e esquece o corpo, os olhos abrem. O tecto está perto, nem estava lá há pouco. O dever cobra, corta, cobra. O corpo arreliou-se, prometeu-se fugir. O dever tem pena, levanta o corpo, jogos de sombra e jogos de corpo, de volta ao lençol. As pálpebras comprimem, a cabeça pesa de novo, o espírito pergunta porquê. Pede ao corpo que acorde os sentidos à vez para vigiar o desassossego. O corpo inspira, expira, respira, inspira, expira, respira, o espírito transpira. O dever chama, e desfigura-se e parece sonho. O espírito sonhou, o corpo assentiu. Assentou. Espírito, corpo e máscara de sonho ficaram dormentes de lutar.

quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Cada um de nós

O que dizer do sentir das gentes mais profundas?
Ao que rezar, para quê ficar se podemos permanecer…?
Gosto de permanecer, gosto do rasto que o avião faz no seu rasgo pelo céu.
Quero a noite pelo seu mistério e o dia pelo seu fervor.
Hoje sei que estás a algures por aqui e digo-te que mexer com a multidão não é fácil.
Mas tu fazes mover aquilo que fermenta em nós, tu fazes passar as águas pelo trilho seco, tornas o árido húmido, e tornas-me volátil, efémera, rastejante de leve passagem.
Cada um de nós é um planeta vivo e pensante, somos o buraco negro e a salvação do planeta, somos nós…!

domingo, 20 de novembro de 2005

Atrás do espelho

Beija a face indiferente à paralisia da mente. Faz a gincana por entre as árvores ardidas e salta para fora da terra molhada. Sente os joelhos falharem perante o abismo. Apaga tudo da tua mente e salta para o completo grito dos teus olhos.
So, just look at me and follow my movement.

quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Eye opening

Apelava sem saber a um pedaço do passado para que me completasse, um mastro da jangada da minha história que derrubo de me pendurar. Afinal, o passado é lá atrás, e soa a familiar por causa dos nomes, alcunhas, nados e óbitos na alma. Que é a mesma e suspeito ser Eu. E sou eu nas fotografias e por isso as arranco e colo à pele até me esconder por inteiro, até Eu ser eu mesmo.
Apanhei-me a prestar louvores ao antigo, um era dantes muitieramá, por sinal. Ainda bem que me deparei com a Saudade no seu caminho, ela aplacou-me e revelou-me que passa por mim todos os dias para buscar lenha que lhe alimente a fogueira. Isto foi um abraço que me aqueceu e a tudo o que eu sou; no fim de contas, já posso sorrir sem medo da culpa, minha e d'outrém. Com base nisto, em mim e nesta alegria, tudo é possível, e tudo é recordado com ternura e emoção.


I remember how we held each other
Through that winter
Leaving our tears wherever we passed
So we could see our way.
That winter we can say
The tears were rain.
But then I met your eyes
And decided I had to stay.

quinta-feira, 10 de novembro de 2005

Ser

Ser de veias e nervos.
Ser com vida a fadiga.
Serás a cantiga vadia do deitar e repousar sobre o peito da amargura,
És a alvorada matinal na frescura do orvalho
É a verdade obscura.
Somos o cinto apertado sobre o buraco furado.
Sois a ausência do ser!

segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Renascer

Nada me pertence, nada conquistei, nada vos deixei.
Apenas parei e rezei olhando para uma fonte seca.
Morrerei e voltarei a nascer, é preciso reeducar-me.
É útil refrear-me, reservar-me, confidenciar-me.
É preciso refugiar-me no som da guitarra que dedilha,
Nos dedos que a tacteiam, nos risos que a rodeiam e nos aplausos que a regozijam.
No fundo, é preciso respiração e estoicismo no coração!

sábado, 5 de novembro de 2005

Transporte

Beija a minha face e deixa-me sentir a vibração das palavras que pensas.
Respira sobre a planta dos pés para que os órgãos se ressintam das más digestões que fizeste. Cobre o teu agreste piscar de olhos, volta-te para o sangue das tuas entranhas e devora todas as tuas manhas.
Neste lugar isolado ouve-se o regato seco e as folhas das árvores imberbes, respira-se o vento que alastra do fogo e bebe-se do ardor das feridas. Apanha o teu transporte e desaparece, toma o teu rumo de volta ao nada e sorri… onde estarás tu neste momento?
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