quinta-feira, 30 de junho de 2005

O tal...

Segundo o próprio, aquele, o tal, o senhor... Enfim, o homem que fala do cansaço humano como algo positivo para a criação. Eu não me sinto propriamente nessa fase, mas acredito que o aprefeiçoamento de milhares de gestos pensados depois da fadiga do corpo se tornam delirantes, surreais e mesmo atarantados... questões essenciais para aquilo que nunca conseguimos repetir num estado aparentemente normal em palco!
(Em) fim, não vou estar para aqui a dizer que a vida é um palco e nós somos os actores, mas que estou cansada depois de tantos ensaios e deixas, procurar o lugar certo para aparecer na luz... espero que todos me vejam e me oiçam direito, pois o espaço é grande e com péssima acústica!

segunda-feira, 27 de junho de 2005

Nada de farsas

Agora tomo um café sozinha com a companhia do olhar alheio, amanhã deito-me salgada na toalha da praia com um grande amigo e ontem estive à mesa com um bom prato de conversa e gargalhadas descontraídas de um fim de tarde!
Nada disto é falsidade, é um jogo de intenções e de gestos pensados após dias de ausência… O teatro não é farsa! Ninguém acredita em nada. O público sabe que não somos aqueles que suspeitamos aparentar, nós sabemos que não somos aqueles, com os quais o encenador nos faz envolver e todos sabem que aquelas acções estão mais que pensadas, esgotadas, reprimidas e retratadas!
Todos devem acreditar na verdade que se usa nesse substrato chamado impulso, porque esse sim, apesar de quase desgastado, é alimentado todos os dias com uma nova esperança de novidade e achado.
Apagam-se as luzes e respira-se o calor da criação quando tudo corre bem!

terça-feira, 21 de junho de 2005

Claro como a água...

É difícil trabalhar por entre o som das retroescavadoras, saltar por cima dos buracos fundos e escavar com honestidade o túnel comum. Impossível é de viver, entre o calor dos caixotes onde vivemos e o frio da tijoleira na qual pisamos. Dói respirar um ar de espinhos cortantes e não gritar nem ouvir os gemidos dos que já lá estão faz anos.
Enquanto isso, caiem-nos as lágrimas pelos palcos e risos de congratulação!

segunda-feira, 20 de junho de 2005

Fermentação

Os corpos são partes fragmentadas que se sustentam por fios carregados de estímulos. Todo o corpo vibra quando queremos fazer sentir algo para o exterior, o essencial é não nos sentirmos ridículos, ou pelo menos se nos sentimos ridículos desfrutemos dessa sensação. Tudo não passa de um forte processo que marca as pessoas, no fundo nós é que somos um pouco encenadores de nós próprios durante toda esta folia teatral.
São precisos os silêncios, as pausas, as virgulas e os pontos finais… é preciso espaço, e tê-lo é conhecê-lo e saber suportá-lo.
Ouve o outro e sorri por ele ainda te dirigir a palavra, mas pede para que ele o faça sem mágoa ou arrogância, pois as minhas compotas no pão estão todas fermentadas! O lixo já não aguenta com o seu peso e odor, é forte demais! Coitadinhas eram tão docinhas as minhas compotazinhas, e agora tornaram-se numa massa espessa e putrificada de sabor e cor. Por isso façam todos um silêncio, pode ser de um minuto ou mais, todos os minutos que desejarem até sentirem a força que brota do vosso olhar interior. Falar sem tremor, sem temor, e com valor é agradável, é importante e tão saboroso como os actos involuntários que praticamos ao longo do dia. O nosso grande desafio é reproduzi-los aparentemente numa inconsciência volátil, é não deixar que as gargantas sequem, e projectar bem a voz para o espaço, seguem-se os aplausos e por fim recarregam-se as energias.

As palavras

O maior assassino do tempo é o nosso pensamento infrutífero, são os momentos que damos ao silêncio penoso das palavras vazias. As palavras são correntes lavradas nas nossas bocas cheias de terra infértil e crescem com as suas raízes podres no solo da nossa alma... não lhes dar sol é fundamental! As letras são o bolo alimentar do pensamento que faz inchar o nosso estômago até à congestão fatal, e também são elas que nos enchem de som, luz e alívio convulsivo.
Em suma, as palavras crescem verdemente pelos vasos como os manjericos mas não lhes podemos cheirar, apenas tocar para sentir o seu cheiro!

quarta-feira, 15 de junho de 2005

Defeito

Uns atrás de outros,
Outros atrás de tudo,
Mas um tudo feito de nada:
Maratonas de louvores,
Um leitor que é feito mudo.
Livros atrás de livros
Com ideias de empreitada,
E prefácios de escritores.

E uma mente baralhada
Fraqueja num abraço.
Prefere esquecer o mundo,
Para suspirar em verso.

segunda-feira, 13 de junho de 2005

Futuro



"
- O que entendes por Estado Novo?
- Viver sem paz.
"




Estava na berma da estrada, ostracizado, um caderno que guarda o esforço de uma rapariguinha, que era uma criança antes de entrar na sua adolescência, durante o seu sexto ano de escolaridade. Mas estava este muitíssimo bem conservado, entre outros trabalhos de uma infância, que ali jaziam desprezados. Achei muito interessante a ideia de poder perscrutar algo que se passou há alguns anos (já em "tempos modernos", viragem de milénio, quase), algo que se passou distante de mim, numa alminha bem diversa da minha. E foi deveras interessante ver a caligrafia cuidada, o esforço metódico de se tentar aprimorar numa labuta que foi com certeza a sua vida até aos nossos dias, que suponho que seja uma estudante de hoje. Estava, na altura, a tentar formar a sua personalidade, muito provavelmente sem o saber ou sequer ter disso noção. Muitas perguntas incidiam no tópico da Revolução dos Cravos, muita tentativa de entendimento. A Sofia Isabel tentou realmente perceber o que se passou neste país nos anos de 30 a 70, e quem eram aqueles homens fardados que entraram pela capital nos seus tanques, mas nús, e quiseram com toda a força que tinham que acabasse o Estado a que aquilo tinha chegado.



Não sei se ela hoje em dia compreende o que foi o 25 de Abril, ou quem foi Álvaro Cunhal, quem é Mário Soares ou as razões do Capitão Salgueiro Maia. Mas são lutas que acho importante não terem sido em vão.



Instrumento de vida

Despertei para um sorriso de maestro, como só de maestro, que personifica a confiança. Despertei para sonhar que ele me vai prender e embalar a memória, aquela que me foge e esvoaça entre os gestos que tergiverso desengessando a discórdia. Mas pergunto-me se tem de ser assim o resto do tempo da minha vida. Numa sala de pessoas acolhedoras e na desenvoltura do bom humor e partilha, posso ambicionar conhecer-me e multiplicar-me, fazer do meu desejo arte. E no restante do meu existir terei eu de me refugiar nos meus medos, nessa sensação incrível de estar prevenido e escondido de tudo? E estar atento a todos os detalhes a essa distância? Não é possível, com toda esta ganância de desvelar o mundo de surpresa, com ambas as mãos e a violência da paixão. E o sossego do sorriso deste maestro que não me olha nem me conhece, mas espera de mim que complete a harmonia da beleza desse sorrir.

sábado, 11 de junho de 2005

Talvez uma evolução!

A vida é muito simples, temos apenas de enfrentar as situações em momentos cruciais. Deste modo, arranjamo-nos no nosso canto, esperamos pelo outro e vamos para um lugar recatado sem grandes confusões, já nos bastam as que vão nas nossas cabeças. Já que não conseguimos evitar formar o problema e ele existe, então só nos resta esperar que a nossa mente não nos atraiçoe e que sejamos o mais versáteis e claros nas nossas palavras e gestos para que tudo corra pelo melhor. Tudo se torna mais difícil quando mantemos as aparências e escondemos o jogo, a facilidade está em dizermos tudo aquilo que pensamos ser necessário dizer, isto, evitando pensar demasiado!


sábado, 4 de junho de 2005

Escuro



E agora, que pensáveis saber todas aquelas coisas? O destino é só o vosso, e o que adianta é apenas seguir em frente. . .

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