domingo, 30 de janeiro de 2005

Eu vi

Esta casa de mil janelas é oca por dentro. Só vejo madeiras velhas a suportá-la, galhos a romperem pelas fechaduras antigas e ervas a nascerem da tijoleira gasta.
Quantas pessoas lá viveriam?
O sol bate na fachada e ilumina a parte descoberta, apenas telhas partidas e grades ferrugentas. Há apenas pilares velhos a sustentar a aparência.
Aquele refúgio existe, eu vi-o, eu vi o sol dourado a raiar lá dentro!
Eu vi... enquanto na linha esperava um comboio velho ao lado de outro que partia.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

As coisas

"As coisas têm peso, massa, volume; tamanho, tempo, forma, cor; posição, textura, duração; densidade, cheiro, valor. Consistência, profundidade, contorno, temperatura, função. Aparência, preço, destino, idade; sentido . . .
As coisas não têm paz . . ."

Caetano Veloso

domingo, 23 de janeiro de 2005

Soul fool

A blank loneliness that words are. Words that can move, words that stop the motion. Words all around us, drifting inside me. Words have the power to capture the silence. Can one just revise oneself into air? My sorrow is not lonely, I fear. It is brilliance reflected in sadness, it is just one silly fragment of shame, looking to avert tomorrow. And I just stand one moment in vagueness to see how it feels not to be guilty. Far away from me I can finally feel lonely for the first time. I don’t fool myself, I know it’s me imagining that gets me here. But when I asked where here was, nobody and no soul could tell me the truth. Because the truth is not in them to be found. The truth does not even lay in their words. I can speak myself out of pain and glory. But who is it that feels pain or glory when they are just speaking?
I guess I just longed to speak my soul. . .

domingo, 16 de janeiro de 2005

Agora, aqui neste lugar

Saímos cansados mas corremos felizes.
Algo numa viagem de mota nos desperta. Saímos do lugar e sentimos tudo o que o nosso corpo pode sentir e de repente, num sorriso, nunca de lá saímos.

Contamos connosco para mantermos tudo o queremos para a nossa tranquilidade, tentamos aprisionar tudo o quanto seja possível para recorrermos lá sempre que necessário.
Conto convosco espaço, tempo, ar, sol, flores, máscaras, panos…
Preciso de ti imaginação, e durmo contigo todas as noites pensamento.

A música, a letra, puxo-as sempre para trás, sinto-as sempre de maneiras diferentes dentro do mesmo círculo. Não, num quadrado! Espero nos seus quatro cantos, para mim todos diferentes.
Isso, canta para mim, deixa-me ouvir-te. Mais alto, quero inundar toda a sala de som!

Deixa o corpo dar o seu impulso, deixa-o viajar: rostos, povos, cabelos, sorrisos, cheiros, cores.
A dor está a passar, sinto cansaço mas corro para lá.
Conto contigo!

Coisas humanas

Apenas deixa-me vomitar e depois passar a ressaca da noite, mutilar-me até me cansar!
Deixa-me sentir a vitima, e a incompreendida.
Bater com a cabeça na parede.
Sair cá fora com um sorriso colado na alma.

Fazer o bem para vislumbrar um sorriso, ajudar para sentir a minha própria utilidade.

Ler muito, até me cansar.
Trabalhar até me sentir serva da ingrata vida.

Olhar para os demais e ver que eles são infinitamente melhores.
Levantar-me suada e ir para um café sem pentear o cabelo, sem cumprimentar nem sorrir se não me apetece.
Entrar num café com uma forte e maravilhosa máscara, dizer que gosto de tudo aquilo, sorrir, ouvir com atenção os ignorantes e falsos e aprender a ser como eles.

Chamavam a policia?
Ela vinha e dizia que eu ia contra a lei. . .
Que lei?! A lei humana?
E a verdadeira onde está?
E a subtilidade fria e arrogante que se lê nas entrelinhas dos documentos?
E as gargalhadas vocíferadas?
Dói, dói até à epiderme, consome mas sabe bem.
E a desconcentração no óbvio é fácil, mais que a seriedade dos factos!

Merda para tudo e todos...
O móvel continua lá, feliz por ser móvel e não sentir nada.
E tu passas por ele infinitas vezes diferente.
Carrega-o com os teus pesos enfermo humano!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

Violeta

Os corpos eram voláteis naquela terra. Era o tempo amarrado ao solo, e as nuvens, de rosa e escarlate, ascendendo lentamente na atmosfera luzidia. Havia pessoas, eu sentia as ideias. Não percebia o que via. Tão subitamente aparecia a meus olhos toda a gente, que vinham sob forma de sonhos. E cada um tinha algo para me mostrar. E eu que afirmava vir de longe, e eles que declaravam paz e chuva de Verão. Não era fácil o estar ali. Era estar sempre demasiado perto, e era sentir todos os aromas. E era aprender a ser figura sem geometria, era conseguir ter um sorriso. Porque é quando precisamos que nos vemos verdadeiramente do avesso, e esta gente vivia do avesso. A ocasião parecia festiva, na altura da minha chegada, e eu entendi que era bem-vindo. Por alguma razão, deu-me vontade de fugir. Por outra razão qualquer, pareceu-lhes lógico, aos avessos, que eu tivesse tido essa vontade, e despediram-se de mim, agarraram-me e feriram-me, e fizeram com que corresse, no mesmo sítio, sem parar. Não me saíam da cabeça as faces, os chamamentos, as crianças. E nessa altura parei, e fui vontade.

sábado, 8 de janeiro de 2005

Pairar sem fundo

Fecha os olhos e respira devagar. Distingue assim o genuíno do medíocre. Olha em volta, está preso como num asilo, onde as portas são dogmas e as grades sonhos desvanecidos. Já não é dono de si. . . Um suspiro triste de alento: "Já não procuro o rigor, apenas a consistência. Já não busco a felicidade, apenas a harmonia. Convalesço por passos."

2002

sexta-feira, 7 de janeiro de 2005

Dar som ao pensamento

Devemos percebê-lo, interpretá-lo, mas sem pensar muito. Deixar que ele ganhe a sua forma e que saia de dentro da sua timidez. Deixemos que ele ocupe e invada saudavelmente o nosso corpo e a nossa voz. De repente tudo muda, criam-se os objectivos e engrandecem-se todas as condições que nos perturbavam no passado. Chegámos ao nosso limite, o obstáculo que coexiste não nos deixa passar mais além. Mas se existir o pensamento, esse obstáculo por alargamento dos nossos horizontes torna-se uma referência. Sempre ela, a referência! Mas agora que ganhamos espaço temos medo de andar, não sabemos mais para além daquilo que tentámos, para além daquilo que tirámos a nós mesmos.
Dar som ao pensamento, mas que quererá isso dizer? O pensamento dá o objectivo e a vontade molda a acção, será isso? Serão as pessoas que nós ouvimos, terei ouvido eu isto num lugar qualquer, dito por uma pessoa qualquer que já atingiu essa resposta? Talvez sim, elas ensinam-nos sorrindo e esperando que o alcancemos… o pensamento! Nesse dia nós falaremos como elas e mais ainda, sentiremos como elas; e isso, que eu ouvi atentamente como vertendo cada palavra, sentir-se-á não na voz, não só no pensamento mas na personalidade!

Loquaz

Porque não sais e me deixas aqui sozinha?
Porque não olhas para a frente com a certeza que fizeste o correcto?
Tu, que me perturbas, que me consomes, que te deitas e me observas. Tu, que corres o meu pensamento, que te ris delirante nos meus olhos, que deitas fora a minha alma. Tu, que atravessas o meu pensamento subestimando-o, sai, corre antes que o teu demónio te mate e chore pelo que fez.


quinta-feira, 6 de janeiro de 2005

Corte Invisível

E depois de tudo isto o que resta?
O cansaço do corpo e a desistência da alma?
Não, porque existo e sinto o meu corpo a voar num impulso dado pelo teu, fico suspensa em ti e tu carregas-me morta sentindo-me viva.
Será a imaginação? Será o crer? Estou viva e sinto a tua força sobre mim.
Olha para o meu sorriso, digo-te que existo, sentes a minha ira?
Porque ficas parado ante mim? Traz-me qualquer coisa, traz-me o amor próprio e a audácia que me falta, traz-me umas asas e não reclames se depois te deixo para trás. . .
Obriga-me a beber a poção que solta os loucos e reprime os insensatos, porque eu sou louca, majestosa, pujante, visceral, delirante e repouso em ti que não existes a não ser na minha imaginação e fermentas o meu âmago até à explosão da alma!

Olhos fechados

É celebrando as diferenças que recaio neste canto de mim. Que enfeitiçante magia de ambiguidade? É uma visão de um cadeado, uma pilha de livros poeirentos, uma esfera pendente maculada de estrias. E escorrem as paredes, voam almofadas, rasgam-se as letras, rasga-se a pele, morrem os soluços. . .

. . .calma. . .

As ideias doridas conseguem já discorrer onde moram, e a mágoa já não mora aqui. Houve cansaço, houve guerra de braços. Houve uma vez, numa plateia, uma voz muda que te oprimiu. Depois os gritos, a força sem sentido, uma força dos sentidos, tremores e gemidos, e um abraço até à noite. Vem a calma. . .Recolhem-se os corpos entre os aromas que fazem as nossas vidas. E tu. . .

“Sabes rir-te sem te rires?
Chorar sem ninguém ver?
Sabes a que sabe a vida
A quem tem tudo a perder?
É fútil tudo isto,
Nem dá p’ra perceber.
Mas por isto não desisto
Somente porque ninguém
Iria ver. . .”

quarta-feira, 5 de janeiro de 2005

Comemorando um início

Está sempre presente aquela alegria secreta que tenho de poder imaginar-te num qualquer cenário esvoaçante em que me olhas séria para depois sorrirmos gargalhadas ternas.

É de ti. . .

Nem sempre estou calmo, muitas vezes pelo contrário, mas consigo sempre saber o que é a calma, porque me é fácil perceber que o que sinto por ti está muito perto disso. Apenas é daquelas calmas que dão vontade de rebentar num abraço. A partir do momento em que o sorriso vem, o teu no meu, é mais fácil. . .

Por vezes a nossa imaginação mata-nos, ou pelo menos consome-nos de felizes ideias.

...as felizes ideias cansam. Que agradável cansaço!

Estarmos sentados a assistir a vida correr sobre nós e não pensar nela mas em ti, sentir um frio e tremer com a ausência.

Estes dias são difíceis, mas a ausência atenua os traços e faz rir os esquecidos.

E basta-me a ideia de poder cheirar o teu cabelo, mesmo que seja no meu sonho de almofada.

. . .e uma sensação do teu respirar que afasta as dores e fraquezas. Porque sei o ritmo a que respiras.

Porque sei o que te comove. . .

E comove-me o que tu sabes, e és.

O abrir os olhos e verificar que há mais cor em redor. É sempre esse o fim. . .

Esse fim inquieta-nos e agride-nos pois sabemos que caminhamos para o início, o que acalma o nosso desassossego é descobrirmos que o caminho nos reservas surpresas.

Uma constante surpresa nos olhos que eu já conheço,

Uma constante vergonha que me faz insistir. . .

Um arrepio constante que me faz aproximar, a cada minuto.

É a fuga, a evasão, o estásimo, a profecia, a verdadeira agnosticidade. . .

O HOMEM QUANDO SORRI E PENSA. . . TU E EU, NÓS!
Talvez um fim. Talvez em mim. Quiçá em nós. . .




por Over_dreams & SilentFreak
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